sábado, junho 18, 2005

Arrastão

Antes de mais, o meu pedido de desculpas aos fiéis leitores deste blog (Johnny, Joana e Mariana, acho que não há mais, se houver deixem-me saber!) pela falta de actualização do mesmo. Já andavam com saudadezinhas, hein? Pois é meus amigos, mas é que estes vossos escritores são pessoas muito ocupadas e solicitadas, quer pelos amigos quer pela família, escola e até mesmo pelo governo (não têm visto a borrada que aquilo tem sido? Pois, fomos nós!). Não referi namoradas porque é óbvio que gente que produz textos como os nossos está condenado a uma vida de celibato, e não por opção própria. Feito o pedido de desculpas, passemos ao post em si. Quero partilhar convosco uma recomendação aos bandidos do arrastão. Aqui vai disto:

Estimados bandidos:

De acordo com relatórios do Minsitério da Administração Interna, a criminalidade dos gangs aumentou 460% em sete anos. Creio ser seguro afirmar, que, nenhuma actividade teve, em Portugal, um sucesso que sequer se assemelhe a este. Se alguma classe profissional tem levado a sério o apelo patriótico do presidente da República para fazer um esforço de dar o melhor de si ao País, é a vossa.
Não posso, no entanto, deixar de colocar fortes reservas à vossa última iniciativa. É certo que a notícia correu mundo, e é inegável que isso, juntamente com os êxitos de José Mourinho, contribui para prestigiar o nome de Portugal lá fora. Mas mobilizar 500 marmelos para assaltar uma praia é simplesmente estúpido. Com meio milhar de gatunos bem organizados vocês podiam ter assaltado a agência sede da Caixa Geral de Depósitos e trazido o cofre-forte aos ombros. Duzentos e cinquenta de cada lado e levavam aquilo em peso para casa (vulgo cubículo, em linguagem de bandido).
Se ainda assim, a idéia era mesmo a praia, parece-me óbvio que deveriam ter escolhido praias de gente rica, como a dos Tomates, Ancão, as de Vilamoura e Vale do Lobo. Num dia bom talvez conseguissem palmar o helicóptero do Manuel Damásio.
Agora a praia de Carcavelos, meus amigos, o que é que tem para roubar? Por mais que me esforce não consigo deixar de imaginar a vossa reunião após o arrastão como uma cena do tipo: "Soces, siga lá dividir as cenas que a gente roubou esta tarde. Este bronzeador solar de factor 30 fica para mim. Mãozinhas, ficas com este par de raquetes. O tupperware de pataniscas de bacalhau é para o Zé Naifas. E os outros 497 dividem este tacho de arroz de tomate embrulhado em papel de jornal."
Rídiculo, não vos parece? Sei que a minha opinião de leigo, provavelmente, conta pouco, mas não faria mais sentido dividirem-se em grupos de 50 (que já assustam) e assaltarem dez praias em vez de uma? É uma simples questão de matemática. Se me permitem a observação, estou convencido que vocês, bandidos nacionais, são como os empresários portugueses - e digo isto sem pretender ofender-vos de modo algum. Têm iniciativa, sim senhor, mas falta-vos visão estratégica e , sobretudo, formação. Não é pois evidente que os vossos negócios se desenvolvem menos bem na praia do que, digamos, no campo? Refiro-me, especialmente, a campos de golfe. Mantém-se o contacto com a natureza e o trabalho ao ar livre - que, pelos vistos, tanto prezam -, e tem duas vantagens que me parecem fundamentais: primeira, há muito mais coisas valiosas para roubar; segunda, eu vou á praia de vez em quando, mas não jogo golfe.
Pensem lá bem nisso e continuação de bom trabalho.

By Ricardo Araújo Pereira in Visão

Sem comentários: